Impressas

Nas décadas de 1960 e 1970, as mídias de comunicação impressas, como jornais e revistas, já ocupavam um lugar cativo como fontes de informação e propaganda, mas tiveram um crescimento de popularidade ainda mais acentuado com incentivos do governo militar no setor e a expansão das grandes empresas de comunicação. Conteúdos, formas e mecanismos de circulação desses impressos foram o cerne da investigação de muitas artistas interessadas na subversão das mensagens produzidas para grandes públicos. O processo de recortar e colar esses materiais, produzindo novos sentidos a partir da linguagem gráfica, também aparece em publicações independentes, como os zines, que se popularizaram junto aos movimentos políticos e contra-culturais desde então. As artistas vanguardistas Neide Sá e Anna Bella Geiger são exemplos daquelas que recorreram aos impressos e ao processo de subversão de imagens midiáticas; no contexto atual, o coletivo Bruxas de Blergh produz zines que mobilizam uma lógica semelhante.

Neide Sá

Neide Sá. A corda, 1967. 

Recortes de revistas, jornais, barbantes e grampo (4 metros lineares)

Foto: Galeria Superfície/divulgação

As Bruxas de Blergh

Bruxas de Blergh, As Bruxas de Blergh, 2021

Livro (124 páginas)

Fonte: cortesía de Leíner Hoki

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Anna Bella Geiger

Anna Bella Geiger. História do Brasil: Little Girls & Little Boys, 1975.

Fotografia e colagem (23 × 22 cm)

Foto: cortesia da artista.

Publicadas

Na esteira das artistas que utilizaram as mídias impressas para elaborar seus discursos políticos, existem aquelas que fazem das próprias publicações seus trabalhos de arte e de pesquisa. Elas tomam as redes de circulação, projetos gráficos e comunicacionais como instrumentos para a disseminação de ideias social e esteticamente comprometidas. São inúmeros os exemplos de publicações independentes, como os zines, revistas colaborativas, livros sobre assuntos com pouca entrada no mercado tradicional, entre muitos outros casos. Em São Paulo, Fernanda Grigolin e Graziela Kunsch são artistas visuais reconhecidas pela elaboração de projetos editoriais. Dentre as inúmeras publicações independentes que poderíamos citar, enfatizamos criações de mulheres artistas no interior do movimento punk, como o Clit Zine e o Emancipar Zine. Ainda no campo das publicações, também estão aquelas artistas que inserem suas produções visuais em livros e revistas (outrora impressos, ou atualmente virtuais), que na somatória com textos literários e teóricos, potencializam os conteúdos veiculados.

Graziela Kunsch

Graziela Kunsch.Revista Urbânia 5 e 6, 2015

Revista 

Fonte: cortesia da artista.

Fernanda Grigolin

Fernanda Grigolin. Sou aquela mulher do canto esquerdo do quadro, 2019

Livro (32 páginas)

Foto: cortesia da artista.

Clit Zine

Cely Couto e Larissa Nunes. Clit Zine, 2012

Zine, impressão sobre papel

Fonte: cortesia das artistas.

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EMANCIPAR zine

Rheremita Cera (org.). Zine Emancipar 1⁠ª edição, 2011. 

Zine, impressão sobre papel

Fonte: Arquivo Riot Grrrl

 

Rheremita Cera (org.). Zine Emancipar 2a edição, 2011.

Zine, impressão sobre papel

Fonte: Arquivo Riot Grrrl

Em ação comunitária

Historicamente, as mulheres ocupam lugares de destaque em muitas organizações comunitárias no Brasil. Comprometidas com diferentes causas sociais, como moradia, saúde, cultura, direitos políticos, reprodutivos, entre outros, as iniciativas voltadas a populações e territórios específicos têm impactos efetivos em suas comunidades, para além do gênero de seus integrantes. As artistas aqui referidas mobilizam a linguagem artística como instrumento de comunicação e potencialização das ações políticas em curso pelos grupos dos quais fazem parte: na zona sul de São Paulo, Mônica Nador toca o JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube; também na capital paulista, a Casa das Cholitas reúne a produção cultural e política da comunidade andina imigrante; em Minas Gerais, Leiner Hoki ilustra projetos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; no Rio Grande do Sul, Erica Maradona atua junto ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.

JAMAC - Jardim Miriam Arte Clube

JAMAC. Selo editorial Autoria Compartilhada, 2023

Fotografia digital.

Foto: cortesia da artista

Casa das Cholitas

Casa das Cholitas, Sarau das Américas, 2023

Postagem para o Instagram

Foto: cortesia Fernanda Quechua Sotto

 

Casa das Cholitas, Ato contra as queimadas de 22 de setembro, 2024

Postagem para o Instagram

Foto: cortesia Fernanda Quechua Sotto

Leiner Hoki

Leíner Hoki. Consultório na Rua, 2022

Ilustração caneta hidrocor, lápis de cor, caneta esferográfica

Foto: cortesia da artista

 

Leíner Hoki. Vive Forte Paulo Freire, 2022

Ilustração para o podcast Vozes da Terra – MST

Foto: cortesia da artista

Erica Maradona

Erica Maradona. Tanta casa sem gente, tanta gente sem casa, 2021

Postagem para o Instagram do MTST – RS.

Foto: cortesia da artista

 

Erica Maradona. Por uma Porto Alegre com teto para todos, 2021

Postagem para o Instagram do MTST – RS.

Foto: cortesia da artista

Nos territórios

A luta pela preservação de territórios ameaçados são, para muitas mulheres artistas, algo que extrapola os limites de suas produções: ela se torna o objetivo principal de suas vidas, aquilo que as mantém em movimento para seguir produzindo. Com isso, percebemos que seu trabalho criativo está sempre, em primeiro lugar, a serviço. De denunciar, mas também de comunicar formas de vida mais respeitosas com os seres vivos, percebidos de maneira ampla e afetuosa. Esse é o caso das quatro artistas que formam este núcleo: engajadas, os trabalhos de Claudia Andujar, Priscila Tapajowara, Beka Munduruku e Licida Vidal, em diferentes lugares de enunciação, tratam da violência e do extermínio de séculos sem deixar de estender a mão para a ação coletiva.

Claudia Andujar

Cláudia Andujar. Amazônia, outubro de 1971

Revista Realidade

Foto: Thais Lopes Camargo

Priscila Tapajowara

Priscila Tapajowara. Ãgawaraitá, 2022

Vídeo. Web série (Episódio 1) 17 min.

Beka Munduruku

Beka Munduruku. Não ao marco temporal!, 2024

Colagem digital

Foto: Instagram/divulgação

Licida Vidal

Licida Vidal. Oportunidade! Porteira aberta, 2024

Anúncio publicado na Revista Latente (4 páginas)

Fonte: cortesia da artista

Nas ruas

Manifestar-se publicamente em protestos de rua, no Brasil, ainda que o feminismo não tivesse sido reivindicado abertamente até mais recentemente, contou com a participação de mulheres que atuavam, de campanhas sufragistas aos movimentos antifascistas, por todo o século XX. Nos anos próximos à promulgação da constituinte, marchas e atos de mulheres que lutavam pela garantia de direitos básicos e que assegurassem sua existência ganharam força, a exemplo do papel imprescindível das Promotoras Legais Populares da União de Mulheres de São Paulo. A produção de panfletos, cartazes, lambes e outras intervenções na paisagem urbana são estratégias recorrentes para a disseminação de ideais e para a mobilização coletiva. Além disso, há a necessidade de criar uma memória, seja pelo trabalho artístico, seja pela fotografia, desses atos e dessas agentes. Sy Gomes, Elaine Campos e as artistas que participaram do movimento Arte pela democracia são exemplos dessa movimentação que ocupa o espaço urbano.

Sy Gomes

Sy Gomes. me vejam de longe – outdoor travesti, 2021

Outdoor

Foto: Muriel Cruz – cortesia da artista

Elaine Campos

 

Elaine Campos. ato/chamada nacional ‘’ Criança não é mãe’’ contra a PL 1904/24, 2024.

Fotografia digital

Foto: cortesia da artista

 

Elaine Campos. “Caminhada Lésbica de São Paulo”, junho de 2012.

Fotografia digital

Foto: cortesia da artista

Arte pela democracia

Tatiana Podlubny. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

 

Suelen Brito. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

 

Rosangela Rennó. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

 

Regina Vater. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

 

Marcia Xavier. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

 

Laura Andreato. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

 

Daniele Marx. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

 

Carolina Caliento. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

 

Fernanda Grigolin. #ArtePelaDemocracia, 2016

Cartaz digital

Foto: Facebook/divulgação

Na música

No Brasil, música e ativismo feminista se cruzam na produção de mulheres que pertencem a movimentos de origem urbana e popular, opostos à vida burguesa, patriarcal, branca e conservadora. Em manifestações culturais como o punk, o funk e o rap, que ganham maior visibilidade e espaço de mercado no país a partir das décadas de 1990 e 2000, as mulheres procuravam estratégias para produzir e afirmar suas lutas dentro e fora dos seus respectivos movimentos, buscando visibilidade e a abertura de caminhos para as colegas. Assim, as composições e aquilo que delas deriva são, nas produções de Silvana Melo, Deize Tigrona e Ros4 Luz, vias estridentes e relevantes de comunicação, para gritar e espalhar sentimentos de revolta e mobilizar transformações.

Silvana Mello

Silvana Mello. Lava e Dominatrix, ano 2001

Flyer de show

Foto: cortesia da artista

Deize Tigrona

Deize Tigrona. Livro de Pau, 2021

Livro produzido com folhas de papel pardo sobre portas de madeira

Foto: acervo pessoal da artista

Ros4 Luz

Ros4 Luz. Chega de se esconder, 2023

Videoclipe 3’32’’ min.